Arquivo da categoria: história

Documentários tangueiros: dos primórdios aos dias atuais

Dias atrás estreou, em Buenos Aires, o documentário “Piazzolla: los años del tiburón”, dirigido por Daniel Rosenfeld, que traz imagens e áudios inéditos do lendário bandoneonista, cedidas pela própria família, inclusive entrevistas feitas por Diana, filha do músico. Enquanto a elogiada crônica autobiográfica não chega aos cinemas do Brasil, fizemos uma seleção de outros documentários tangueros para serem aproveitados no conforto do sofá, que permitem descobrir um pouco mais sobre o gênero musical e seus grandes expoentes, bem como sobre o fenômeno social e cultural que é o tango.  Continuar lendo Documentários tangueiros: dos primórdios aos dias atuais

As mulheres e o tango: mais do que musas, criadoras – as nossas contemporâneas

Tem sido ótimo descobrir cada uma destas mulheres que, entre letras de amor, de protesto ou de crônicas de seu tempo, entre tangos mais roqueiros ou milongas candombeiras, seguem compondo e escrevendo a discografia contemporânea do tango com obra lindas. Continuar lendo As mulheres e o tango: mais do que musas, criadoras – as nossas contemporâneas

As mulheres e o tango: mais do que musas, criadoras – As pioneiras

A impressão que temos é que apenas de uns anos para cá o tango começou a deixar de ser machista, seja pela revisão de alguns códigos da milonga ou pela forte presença das mulheres no cenário musical. No entanto, a participação feminina sempre foi expressiva e, mesmo no período de consolidação do tango, nas primeiras décadas do século XX, era frequente que orquestras formadas por várias instrumentistas se apresentassem nos cafés (e nas mesmas condições que os músicos homens, muitas vezes tocando por horas a fio). Também as DJs daquela época ganharam notoriedade: eram as vitroleras, que frequentavam os bares e cafés e colocavam seus fonógrafos para animar o público. Além das instrumentistas, das DJs e das cantoras (sobre estas já escrevemos em outro momento), as mulheres compuseram música e escreveram letras de tango desde seus princípios, ou até mesmo antes. Continuar lendo As mulheres e o tango: mais do que musas, criadoras – As pioneiras

San Pugliese e o cravo vermelho sobre o piano

Nome fundamental da música porteña no século XX e influência inegável de muitas orquestras atuais, Osvaldo Pugliese preferia ser encarado como um operário que trabalhou pelo tango durante seus quase 90 anos, o que não o impediu de ser genial e revolucionário, mesmo precisando superar as inúmeras perseguições e detenções que sofreu por suas convicções políticas. Após sua morte, mesmo ateu, foi convertido, mais por reconhecimento do que por brincadeira, a santo protetor dos músicos populares.  Continuar lendo San Pugliese e o cravo vermelho sobre o piano

Rádio da Universidade a puro tango

Foto: Thiago Cruz / Rádio da Universidade

Os amantes do tango ganham, nesta semana, um novo canal para escutar o ritmo platino e se informar sobre tudo o que acontece no mundo tanguero de Porto Alegre. A Rádio da Universidade (UFRGS) lança neste sábado (20/05), às 11h15, o Programa “Sempre Tangos”, com locução e roteiro de Fábio Verardi, produção da jornalista Alessandra Bergmann e sob direção-geral de André Prytoluk. O lançamento acontece durante o UFRGS Portas Abertas, evento da universidade. A partir de 26 de maio, às 20h, o programa passa a ser veiculado semanalmente, todas as sextas-feiras. Para ouvir, é só sintonizar o rádio no 1080 AM ou pelo site da Rádio Continuar lendo Rádio da Universidade a puro tango

O carnaval que se vive no Rio da Prata

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Estão chegando os quatro dias loucos tão esperados em grande parte da América do Sul. É hora de extravasar alegria e pelo continente fazemos isso com muito ritmo, tambores e cores, cantando a plenos pulmões. Se aqui no Brasil o domínio indiscutível é do samba, das marchas e do axé, entre outros ritmos nacionais, os hermanos uruguaios e argentinos têm outros sonidos que comandam a festa.

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Recesso, mas nem tanto: dicas de fim de ano

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Chegou aquela época do ano que o ritmo muda e alguns ficam meio atordoados.  Mais ou menos como não saber se descansa ou se arruma o pinheirinho.  Para os tangueiros de plantão pode bater uma abstinência no meio disso tudo, afinal muitas práticas e milongas também estão em recesso. Para ajudar a sobreviver a esta fase difícil em que os sapatos de baile são obrigados a descansar, preparamos algumas dicas para quem quiser continuar aproveitando o tango, mesmo que seja no conforto do sofá. Continuar lendo Recesso, mas nem tanto: dicas de fim de ano

No Dia do Músico, nada melhor que recordar El tigre del bandoneón

Como hoje é Dia do Músico, e é difícil escolher alguém que possa representar tantos gênios que a música ofereceu, decidimos recorrer a Eduardo Arolas, personagem ao mesmo tempo mítico e fundamental. Nascido no bairro de Barracas, em 1892, praticamente junto com o tango, na época que o ritmo começava a se fazer notar nos prostíbulos de Buenos Aires, Arolas tornou-se o principal expoente na transformação de uma dança primitiva no ritmo que passou a identificar a Argentina, como explica Jorge H. Andrés neste excelente texto do La Nación. Começou tocando violão, mas logo passou ao bandoneón, instrumento que lhe transformaria em lenda. Continuar lendo No Dia do Músico, nada melhor que recordar El tigre del bandoneón

O que é Tango Queer?

Você já ouviu falar em Tango Queer? Conversamos com a Paola Vasconcelos, bailarina e professora de tango, que contou um pouco sobre essa proposta. O bate-papo teve vários assuntos, entre eles a maior abertura à diversidade, o papel da mulher no cenário atual, a integração com a comunidade LGBT, o rompimento de padrões e códigos, diálogo, improvisação e ampliação da democratização do tango. Confira abaixo a entrevista completa.

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Astor, coroinha de um padre Antônio

Piazzolla en una tanda

tanguediaPiazzolla sorveu música clássica e destilou-a no tango. Logrou que o gênero mantivesse identidade enquanto ampliava a sua pessoa do plural. Esse processo é diretamente vinculado à formação cosmopolita do músico, às suas influências e à grande presença de italianos na Argentina, desde o século XIX, que levaram consigo a sua música, uma das tradições mais importantes do ocidente. Continuar lendo Astor, coroinha de um padre Antônio

Un disparo en la noche: um disco manifesto do tango novo

Imagens: Julián Peralta
Imagens: Julián Peralta

Me leyó una gitana en la borra del café que vuelve el tango
Se escapó de enredadas partituras
Los que no lo conocen lo pedían
Alguien lo dio por muerto, qué locura!, si era siesta, nomás,
La que dormía.

Assim termina Vuelve el tango, escrita por Jorge “Alorsa” Pandelucos, música que abre o disco Un Disparo en La Noche, da Orquesta Típica Julián Peralta. Não por acaso, é a primeira faixa da obra lançada em 2012, que já marcou seu lugar na história como um verdadeiro manifesto ao tango novo. O disco faz um mapeamento de algumas das mais representativas composições e letras da atualidade, com diversos músicos e poetas, cantado por vozes que mantêm o tango em constante evolução. Além de novas canções, cada faixa permite conhecer bastante do cenário musical atual da capital argentina. Continuar lendo Un disparo en la noche: um disco manifesto do tango novo

Breve biografia de um cavalo tanguero

Gardel y Lunático

Em um dia como qualquer outro daquele setembro de 1922, provavelmente ainda frio em Luján, veio ao mundo o mais bem-aventurado fruto do amor selvagem entre Saint Emilión e Golden Moon.  Como todos os caminhos levam à Capital Federal, os anos passaram e, após duas primaveras, chegou o momento de se aventurar em Buenos Aires. Continuar lendo Breve biografia de um cavalo tanguero

El Bandoneon Mayor de Buenos Aires

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Pichuco tinha lá seus 9 anos quando deu colo a um bandoneon pela primeira vez. Antes, entre uma ida à escola e um jogo de futebol, tocava seus travesseiros. Sim, colocava-os sobre os joelhos e fazia soar seus tangos de criança. Por volta dos 10 anos ganhou um bandoneon de sua mãe, que na verdade nunca precisou ser todo pago porque o vendedor sumiu. E este bandoneon acompanhou aquele garotinho por boa parte de sua vida. Continuar lendo El Bandoneon Mayor de Buenos Aires

O tango, Maradona e os ingleses

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Há exatos 30 anos, Maradona bailava a milonga de um homem só. O confronto entre Argentina e Inglaterra, pela Copa do Mundo de 1986, no México, teve altas doses de tensão porque quatro anos antes ambos os países haviam se envolvido numa contenda bélica pelas Ilhas Malvinas. A partida entraria para a história como uma espécie de vingança dos sul-americanos, graças aos dois gols de Maradona e, especialmente, pela forma como aconteceram: primeiro com a mão, porque com essa trampa doeu mais nos ingleses, depois driblando metade do time adversário, pois assim a humilhação se tornou evidente. Continuar lendo O tango, Maradona e os ingleses

Tango Novo: Música de Ruptura

Foto: Ciudad Baigon
Foto: Ciudad Baigon

Este é o primeiro de uma série de posts sobre a produção de tango atual na Argentina, em especial em Buenos Aires. Nas próximas semanas, vamos apresentar alguns dos principais expoentes da cena musical tanguera a partir dos anos 90, período que marca uma renovação na forma como os porteños passaram a encarar sua mais genuína expressão musical. Começamos falando sobre aqueles que partiram do tango para encontrar uma forma libertária de expressão, levando para as partituras toda a tensão urbana da atualidade. Uma Música de Ruptura, enfim. Continuar lendo Tango Novo: Música de Ruptura

Horacio Ferrer: El Duende de Buenos Aires

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O que acontece em uma cidade ou fica na história privada de seus habitantes, em suas memórias e no que se transmite de pais a filhos, ou, algumas vezes, chega nos jornais, que o tempo silencia. Alguns acontecimentos chegam aos livros de história que se dedicam a registrar e dar suas versões. Mas outras histórias dos personagens urbanos são escritas pelos poetas, que mantêm sempre viva aquela vida íntima que torna a cidade o que ela é. Continuar lendo Horacio Ferrer: El Duende de Buenos Aires

Buenos Aires enquanto a noite não chega

Quem viaja para milonguear em Buenos Aires conhece uma cidade de duendes de la noche que parecem ignorar aquele turno em que mesmo as grandes metrópoles caem no sono. De todos os momentos do dia em Buenos Aires, apenas nas primeiras horas da manhã a cidade parece sucumbir à letargia – à tarde e à noite, se vive aquilo que os porteños chamam de loquero. Tornar-se mais um habitante da madrugada é uma tentação, mas vale o esforço para desfrutar o que a cidade nos oferece enquanto o sol bate cartão. Abaixo, algumas dicas de lugares sensacionais que visitamos nestas idas e vindas sobre o Rio da Prata. Continuar lendo Buenos Aires enquanto a noite não chega

Documentários tangueros

A TV Pública Argentina lançou, na última sexta-feira, a minissérie Tango Pasión Argentina, sobre a história do tango, das suas origens à atualidade. A apresentação é comandada por Chino Laborde, cantor que já esteve à frente da Orquesta Típica Sans Souci e da Orquesta Típica Fernández Fierro e agora é a voz de sua própria Orquesta, a Chino Laborde Orquesta Típica. Um roqueiro que foi, como tantos outros, “convertido ao tango”, o que parece ser quase um destino. A série será exibida todas as sextas-feiras, às 23h30 pelo horário de BsAs, e pode ser acessada também pela página da emissora.

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D’Arienzo mostra como se rege uma orquestra (e a vida)

Um dos grandes da história do tango, Juan D’Arienzo (1900-1976) teve muita responsabilidade em recrudescer o interesse dos jovens pelo ambiente tanguero, pois por volta de 1940 retornou às origens da velha guarda, retomando o compasso 2×4 com arranjos e instrumentação modernos, motivo pelo qual ficou conhecido como EL REY DEL COMPÁS. Fez isso porque lhe incomodava a tendência, então recorrente, de transformar a orquestra basicamente em um suporte para os cantores. A intenção do maestro era novamente colocar bailarinos e músicos como protagonistas do tango. Neste artigo, há uma citação de D’Arienzo em que ele diz que o tango é, antes de tudo, nervo, força e caráter. O que ele faz questão de deixar bem claro neste memorável vídeo em que comanda sua orquestra, totalmente em chamas.

Chamuyando em Porto Alegre

“No es chamuyo, es amor”

O grupo de tango eletrônico Gotan Project, formado em Paris por um suíço, um argentino e um francês, esteve em Porto Alegre em 2010 e 2011 e provavelmente a gauchada ouviu, em Mi Confesion, a palavra chamuyo, que pode ser traduzida mais ou menos no sentido de “passar a conversa”, geralmente para conquistar algum êxito amoroso. Não foi a primeira vez, nem da palavra, nem do tango por essas bandas. Em 1915, um uruguayo residente em Buenos Aires veio pra Porto Alegre para gravar um tango (parece que eram dois, na verdade), acompanhado por outros músicos argentinos. A história é cheia de controvérsias e imprecisão, mas o tal tango era El Chamuyo, de Francisco Canaro, o Pirincho, seu apelido de berço.

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Como um convite de Gardel quase privou o mundo de Piazzolla

Eis uma história daquelas que dá uma rasteira no cérebro, que me caiu como um tijolo quente no colo ao ler Astor Piazzola – Fulgor de bandoneón, da série Protagonistas de la cultura argentina, do La Nacion. Poderia ser uma lenda deliciosa, lapidada pelo artesanato das línguas incontroláveis no decorrer das décadas, mas é de fato mais uma prova de como a realidade supera a ficção. Há vários registros que comprovam a veracidade do que sucedeu em 1934, que envolve dois dos maiores nomes da música argentina, então em momentos frontalmente opostos da vida: Carlos Gardel, já convertido em embaixador mundial do tango, e Astor Piazzolla, na época apenas um pibe de 14 anos que tentava tocar harmônica e vadiava pelas ruas de Nova York. Continuar lendo Como um convite de Gardel quase privou o mundo de Piazzolla

Buenos Aires, Tango y Ciudad

Um tema tão atraente quanto inesgotável é a relação da cidade com a sua música, e quando se fala neste vínculo é mais do que natural pensar no tango e em Buenos Aires. Assim, compartilhamos um documentário excelente feito pelo Canal Encuentro, chamado Tango y Ciudad, que conta um pouco da relação da cidade com o tango e que nos remete ao apaixonamento que os dois despertam nos viajantes. Cliquem aqui e assistam, porque é simplesmente sensacional (é possível assistir com legenda em espanhol). Continuar lendo Buenos Aires, Tango y Ciudad

Margens ao Sul – Parte 1

Porto Alegre e Buenos Aires são cidades portuárias que, embora não estejam voltadas para suas águas correntes, têm muita vida em torno delas. São capitais com usos diferentes de seus portos, entre trânsito intenso de mercadorias e de pessoas, mas que guardam em suas margens a história daqueles que por ali passam, e às vezes ficam.

Porto Alegre é costeada de norte a sul pelo Rio Jacuí e pelo Lago Guaíba, sempre com terras no horizonte, das ilhas ou do continente. No Centro Histórico da cidade gaúcha podemos chegar ao Lago no cais do Catamarã, na altura do Mercado Público. Ele nos leva à zona sul de Porto Alegre e a Guaíba, cidade do outro lado do Lago. Neste mesmo cais, no fim de tarde, ocorre um transporte de passageiros inusitado para os padrões de uma cidade que se pensa grande. Barquinhos pequenos a motor encostam nas escadarias e embarcam passageiros que se vão com o sol.

Cais do Catamarã
Cais do Catamarã
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